#65 - O talento de um corno (Reflexão)


Caros amigos de chifres

nesta tarde de Natal o Blog Meus Chifres  publica um texto para a reflexão para lermos enquanto as nossas esposas experimentam as lingeries que vão fazer a festa dos seus amantes. 


Trata-se de um texto encontrado no blog do José Newton Neto. A qualidade destes pensamentos nos faz pensar profundamente sobre o estranho (para muitos) desejo de ser corno. Aproveite a leitura!
Texto publicado no jornal O estado do Maranhão, seção Hoje é dia de…

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A grande dificuldade de se medir o talento de um corno é saber até onde essa é uma arte sua, natural e exclusiva, ou apenas uma conseqüência do talento para botar chifres da parceira que escolheu. De forma que o talento do corno parece não se revelar apenas no ato em si, mas nas decisões que toma a posteriori.
Talentoso ou não, a ciência prova todo homem tem um potencial nato para ser chifrudo o que significa dizer que todo macho é uma cabeça à espera de um chifre, embora nem sempre tenha sido assim. Antigamente – e bote milhares de anos nisso – quando ainda éramos macacos não sabíamos que podíamos ser cornos. Mas já desconfiávamos. Segundo a teoria evolutiva todo esse ciúme, que o macho sente pela fêmea que julga sua, nasceu da impossibilidade de nossos tataravôs macacos saberem se o embrião que fazia a barriga da companheira avolumar-se era, de fato, seu. Podemos imaginar o drama. Se hoje em dia, com exame de DNA e tudo, as dúvidas persistem imagine nessa época.! (recente reportagem de uma científica atesta que, atualmente, 8 % dos filhos reconhecidos por seus pais, como seus legítimos descendentes, não o são, na realidade)
Não é de estranhar, portanto, que muito tempo depois, na Idade Média, os homens tenham tentado proteger a exclusividade de seus genes com a invenção do cinto de castidade. Coitados, não conheciam, ou faziam de conta que não conheciam a primeira Lei Universal dos Cornos que diz: “não há equipamento capaz de prevenir um homem de se tornar corno” ( que é apenas uma versão – piorada – da muito popular Lei Universal da Natureza Feminina que diz: “fogo de morro acima, água de morro abaixo e mulher quando quer dar, ninguém segura”).
Cerca de oitocentos anos a mais de evolução, esse ciúme, tão instintivo e avassalador, gerou nas páginas do mestre Machado de Assis um verdadeiro tratado sobre o tema chamado Dom Casmurro. Neste romance ele relata, elegantemente, o drama de um corno chamado Bentinho, para sempre em dúvida quanto a verdade do seu gene na barriga da amada Capitu, atormentando-se por causa disso, capítulo após capítulo, sem coragem de dar a volta por cima. O certo é que, se evoluímos, passando de macacos para homens, o sofrimento, porém, continuou.

E, ao que tudo indica, nunca acabará. Nestes dias que correm, de Internet, Big-Brother e pílulas de felicidade, uma notícia de chifre ganhou mais assunto na imprensa internacional do que a nova queda nas ações da bolsa européia. Trata-se do lateral Bridge, da seleção inglesa, que, traído pela namorada com um companheiro de time e de farra, Terry, decidiu abandonar o English Team. “Não posso usar a mesma camisa de um cara que pode ter usado as minhas camisinhas” teria dito ele, e, desde então, só se fala nisso na Europa.
O que teria acontecido, para que um acontecimento tão banal tenha adquirido tons de tragédia mundial? Parece que Bridge, ao dar uma de vítima, descuidou-se de uma das regras fundamentais do Manual Universal dos Cornos que diz: “todo chifre nasce do mesmo tamanho, mas aumenta desproporcionalmente, quanto mais se fala nele”. Por desconhecimento de uma regra elementar, o zagueiro, que se revelou um corno de raro talento ao se despedir voluntariamente da seleção, corre o risco de ficar mais famoso nessa arte que na de jogador de futebol.
Com o intuito didático de evitar que mais cornos se tornem famosos como Bridge lembraremos, a seguir, alguns itens desse manual. Que este não se torne uma Bridge (ponte, em português) que o conduza, ao invés, para o outro lado, caríssimo leitor:
1. O sujeito que tem vergonha de ser corno deveria se lembrar que todo ser humano não passa de um corno, pois sua sina é ser traído e abandonado um dia por aquela que mais ama: a própria vida.
2. Todo homem que ama uma mulher acima de todas as coisas corre o sério risco de vê-la rapidamente abaixo das coisas do primeiro homem que aparece.
3. Numa relação homem-mulher nunca dá empate, sempre um dos dois está ganhando. Se o homem julga que sua relação está empatada é porque já está perdendo.
4. O bom corno não é mais corno não só porque o dia tenha só 24 horas, mas porque o alfabeto só tem vinte e três letras e o espelho só tem uma imagem.
5. Nunca existiu nem jamais vai existir Equipamento de Proteção Individual para o corno. O melhor que já inventaram foi a camisinha, mas quem usa, quando interessa, é o outro.
6. Um corno pode ser perfeito, o não-corno jamais. Depois que inventaram a fantasia feminina não dá para escapar. Na melhor das hipóteses o sujeito toma chifre do Brad Pitt, na pior da Angelina Jolie. (ou vice-versa, com queiram).
7. O chifre foi a melhor forma já inventada por uma mulher para colocar os homens nos seus devidos lugares. Seu marido no seu (dele). Seu amante no seu (dela)


 Sobre o autor do texto:
JOSÉ EWERTON NETO – Engenheiro e escritor, membro da Academia Maranhense de Letras publicou os seguintes livros: O Prazer de matar reeditado pela editora Revan, Rio com o nome O oficio de matar, Estátua da noite, poesia, A morte dos Mamonas Assassinas e outros contos, O menino que via o além, Cidade Aritmética, poesia e Ei, você conhece Alexander Guaracy?, contos. Acaba de ser publicado o romance O infinito em minhas mãos.



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