#121 - Locktober (Dica)

Envolto em um penumbra que nos impede de ter uma real visão do que existe por trás desta cortina, o mundo do sexo e da sexualidade é submetido a uma existência sob uma sombra, da qual percebemos apenas a ponta de um iceberg.

Tendo a visão limitada, criamos uma falsa noção de sexualidade a partir de um referencial incerto que, por não nos oferecer um real ponto de partida, nos leva a uma vivência confusa, incompleta e, de certa forma, frustrante, por acreditarmos na existência de um modelo único de sexo e sexualidade, gerando experiências frustrantes ou limitadíssimas no que diz respeito ao sentido do prazer. 

Neste ambiente obscuro que existe sob a linha do visível, habitam diversos fetiches e comunidades de praticantes igualmente invisíveis que vivem, muitas vezes de maneira solitária, outras de maneira dissimulada, diversas e intensas formas de busca pelo prazer sexual, que sequer imaginamos

De certa forma muito praticado nos Estados Unidos e Europa, o "Locktober" é um evento anual que segue os moldes do Setembro Amarelo, mês destinado à divulgação e intensificação de políticas publicas de prevenção do suicídio, ou o Outubro Rosa, mês igualmente dedicado ao combate do câncer de mama entre o público feminino ou o Novembro Azul, cujo foco é o câncer de próstata que acomete os homens.

Praticamente desconhecido no Brasil, o "Locktober" é um mês dedicado à busca por novas formas de  prazer masculino uma vez que o homem tranca o seu pênis num cinto de castidade durante os 31 dias do mês de outubro, negando-se ao direito à penetração e à manipulação do seu próprio órgão sexual durante todo o mês corrente. Neste período de abstinência do contato com o pênis, o participante, fazendo uso de um cinto de castidade (veja como colocar o seu no post #56), entrega as chaves do seu dispositivo à uma outra pessoa (esposa, namorada ou dominadoras de aluguel) para que ele não decline da sua missão de passar os 31 dias sem contato com o seu pênis.

Sociedade menos conservadora neste sentido, nos EUA já existe um mercado organizado em torno do Locktober, no qual até guardadores de chaves se colocam à disposição daqueles que pretendem aderir ao movimento mas não tem um dominador ou parceiro de aventura que possa controlar as chaves. De tal maneira surgem as "detentoras das chaves" mulheres que oferecem o serviço de receber e guardar as chaves dos cintos de castidade durante a realização do Locktober em torca de pagamentos que podem chegar à cifra de 200 dólares pelo serviço prestado que além de guardar as chaves, inclui a escuta quanto às sensações e dificuldades enfrentadas pelo usuário do cinto no período.
O ato pode ser visto como loucura por uns, ou aberração para outros visto que vivemos sob influência de uma intensa cultura que muito valoriza o pênis, como símbolo da masculinidade. Por outro lado, o ato pode ser visto como uma oportunidade única de descobrir outras fontes de prazer no corpo masculino, além do seu pênis.

As vantagens do evento podem ser ainda maiores pois, o ato de privar-se do prazer através do contato peniano, inevitavelmente irá conduzir o praticante do Locktober à uma experiência de propriocepção, na qual ele ira buscar (e provavelmente encontrar!) novas possibilidades de sentir prazer sexual com o seu corpo e mente, transcendendo os limites do seu pênis e ampliando a sua concepção a respeito do termo "órgão sexual", termo este que se amplia de acordo com o sexólogo e presidente da Sociedade Espanhola de Intervenção em Sexologia, Manuel Lucas Matheu, que nos adverte que  " o maior órgão sexual do ser humano é a pele". 

Nas palavras do sexológo espanhol, podemos perceber a importância do Locktober como uma forma de estimular a investigação das tantas zonas erógenas que o corpo masculino contém além do próprio falo. Percebe-se portanto que o ato de trancar o próprio pênis em um cinto de castidade transcende a condição de perversão ou fetiche sexual para uma ação de natureza pedagógica,  pois traz para o homem uma interessante e excitante possibilidade de aprendizagem sobre o seu corpo, o sexo e a sexualidade.

"As ereções começam no cérebro"  diz Mathew Rodriguez,  redator de um site especializado em sexualidade humana.  "uma visão, um cheiro, um barulho - leva o cérebro a liberar uma substância química chamada óxido nítrico para produzir monofosfato de guanina cíclico, que induz sangue no pênis e contrai os vasos sanguíneos, provocando a rigidez no pênis,  o que nos faz perceber que o estado de ereção é algo muito anterior ao contato físico com o pênis e que nos abre o horizonte para imaginar que, da mesma forma, o orgasmo pode ser dissociado da penetração, bem como do contato físico com o pênis, nos recordando das poluções noturnas, fenômeno muito comum no homem entre os 12 e 25 anos de idade, no qual temos ereções e ejaculações durante o sono, sem nenhuma forma de estimulação sexual física.
Em uma breve pesquisa em uma das várias redes sociais destinadas ao sexo e sexualidade ativas no nosso país, pude constatar um grande desconhecimento quanto à prática lo Locktober na nossa comunidade. Dentro de uma parcela inferior a 5% do quantitativo observado, os que conheciam ou praticavam o Loctober eram divididos entre brasileiros e portugueses (grande maioria) que frequentavam as salas e grupos de bate papo on line.

Restringindo a observação entres os que conhecem/participam do Locktober, no nosso território percebi um cenário positivo e empolgante, recheado de relatos de pessoas que, no período em que se mantiveram privados do contato com o seu próprio pênis, ampliaram proporcionalmente ao período de privação, as suas possibilidades e intensidade do prazer alcançado.

Os poucos homens que afirmaram já ter experimentado o Locktober, relataram ter atingido orgasmos intensos e muito mais fortes dos que são alcançados por meio da penetração ou masturbação. Muitos deles alinharam-se com o que foi citado anteriormente, ao dizer que só o fato de iniciar o período de uso do cinto de castidade, já se sentem muito mais excitados e, mesmo com o impedimento das ereções, atingem orgasmos que os ensinaram que o sentido do prazer é muito mais além da ejaculação.


"Aprendi que o orgasmo não depende da penetração, muito menos da ejaculação", disse um dos entrevistados que não deixará de participar do Locktober neste ano, aderindo ao evento pelo terceiro ano consecutivo. Outro praticante nos chamou a atenção para o fato de que a experiência "fez a vida valer a pena" já que ele não está mais "passando em branco pelos estímulos que recebe diariamente uma vez que todo o seu corpo está ativado na missão de sentir o prazer que antes era domínio do seu pênis.


De uma forma ou de outra, para quem busca uma vida sexual mais plena, livre dos preconceitos e com os plenos direitos de sentir prazer, o Locktober configura-se como mais uma forma de ultrapassar o limites medievais impostos sobre o sexo e a sexualidade, descortinando mais uma das tantas possibilidades que o homem pode ter de sentir o prazer.

É hora abrir mão dos pré-conceitos incutidos na nossa mente  e ter coragem de tentar descobrir um pouco mais sobre o prazer masculino.

Comentários

  1. Falta ter no Brasil um evento como esse ,assumir nossa Cornosexualidade é ao mesmo tempo ser discriminado o Corno e sua esposa ⭐♠️❤️♠️⭐

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Use o bom senso e verifique se sua participação neste espaço é pertinente. Comentários ofensivos, desfocados, propagandas serão removidos.