#461 - Desejos Secretos - Parte 23: Recomeço (Relato)

Caros amigos de chifres 

depois do longo período de espera, toda comunidade de leitores do nosso Blog Meus Chifres volta a se deliciar com a continuação da série de relatos "Desejos Secretos", enviados pelo nosso leitor corno manso Daniel Cartaxo.

No post de hoje, o manso nos mostra que a vida de um corno pode ser tudo, menos estável, por mais que ele esteja longe dos chifres. 

Vejamos a seguir o que se deu com o nosso amigo manso, depois que ele disse não para a inesquecível Letícia.

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Desejos Secretos

Capítulo 23: Recomeço

Quando entrei naquele salão iluminado em São Paulo, com seu burburinho de vozes e luzes brancas refletindo no piso lustroso, eu não tinha ideia de que minha vida estava prestes a mudar para sempre. A feira de negócios estava lotada. Homens e mulheres com pastas, crachás e sorrisos ensaiados cruzavam os corredores, apressados em encontrar oportunidades, clientes e parcerias. Para mim, era mais um dia de trabalho, buscando fornecedores para minha empresa de construção em Campos dos Goytacazes.

Foi quando meus olhos pararam nela.

Ela estava em um estande bem iluminado, ao lado de uma bancada repleta de materiais de construção inovadores. Seus cabelos negros e lisos brilhavam sob a luz, enquanto seus dedos delicados deslizavam por uma prancheta, anotando algo com atenção. O contraste entre sua pele clara e o vestido azul-marinho a fazia parecer uma pintura clássica, perfeitamente posicionada naquela moldura moderna.


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Demorei um instante para processar o que estava vendo. Algo na maneira como ela se movia, com uma calma profissional e uma leveza quase tímida, me intrigou. Ela era Mia, mas eu ainda não sabia disso.

Quando finalmente me aproximei, ela levantou os olhos e me encarou. Seus olhos fortes e marcantes, quase hipnóticos, me desarmaram.

— Boa tarde! Posso ajudá-lo? — disse ela, com um sorriso educado, mas genuíno.

Por um momento, me senti como um garoto inseguro, tropeçando nas palavras.

— Boa tarde... Eu... Eu sou Daniel. Estou procurando informações sobre esses produtos.

Enquanto ela explicava com clareza e confiança, mal conseguia prestar atenção. Estava perdido na suavidade da sua voz e no jeito que ela mantinha uma postura profissional, mas não fria. Quando a conversa terminou, soltei uma pergunta que me escapou sem pensar.

— Desculpe, mas... você é de Campos dos Goytacazes?

Ela arregalou os olhos por um momento, surpresa, antes de soltar uma risadinha que iluminou todo o ambiente.

— Sou sim. E você?

— Também! Parece que o mundo ficou pequeno agora.

A conversa fluiu como um rio calmo. Era como se tivéssemos sido apresentados por algo maior que nós dois. Quando o evento terminou, tomei coragem e a convidei para jantar. Para minha surpresa, ela aceitou.


No jantar, descobri mais sobre ela. Mia era profundamente religiosa, criada em uma família tradicional. Aos 28 anos, ela equilibrava a carreira e sua fé com precisão. Diferente de qualquer mulher que eu já conhecera, Mia tinha uma visão de mundo que transbordava estabilidade e propósito.

image.pngNos meses que se seguiram, nos aproximamos ainda mais. Ela era tudo o que eu precisava naquele momento da minha vida. Depois de anos de altos e baixos com Letícia, uma mulher que havia me mostrado o lado mais visceral e doloroso da paixão, Mia era como um bálsamo. Sua calma, sua bondade e a maneira como ela olhava para o futuro me davam algo que eu há muito tempo não sentia: esperança.

Depois de um ano de namoro, pedi Mia em casamento. Foi numa tarde nublada em Campos, em um café aconchegante que costumávamos visitar. Quando entreguei o anel, seus olhos se encheram de lágrimas, e ela disse o “sim” que ecoaria pelo resto da minha vida.

Nos primeiros meses de casamento, tudo parecia perfeito. Mia era atenciosa e amorosa, e eu fazia tudo o que podia para ser o marido que ela merecia. Mas havia algo em mim que eu mantinha trancado a sete chaves. Um segredo que eu temia compartilhar, mesmo com a mulher que era agora a minha companheira.


Certa noite, estávamos sentados na varanda de nossa casa em Campos dos Goytacazes. Era uma noite fresca, e uma brisa leve cortava o ar, trazendo consigo o cheiro de terra úmida e as fragrâncias suaves das flores do pequeno jardim que Mia havia cultivado com tanto carinho. A luz da lua cheia pintava a cidade com um tom prateado, iluminando o rosto dela de uma forma que fazia cada detalhe de sua beleza parecer ainda mais marcante.

Mia estava com os cabelos soltos, caindo como uma cascata negra sobre seus ombros. Ela segurava uma xícara de chá quente entre as mãos, absorta em pensamentos. Por alguns minutos, nenhum de nós disse nada. Apenas ouvíamos os sons da noite: o farfalhar das folhas ao vento e, ao longe, os latidos de um cachorro.

— Daniel — ela começou, com uma voz tranquila, mas carregada de um tom sério que imediatamente chamou minha atenção.

— Diga, Mia.

Ela virou-se para mim, apoiando o corpo levemente contra a cadeira. Seus olhos, iluminados pela luz da lua, me encaravam de uma maneira que me fez sentir como se ela estivesse tentando decifrar algo dentro de mim.

— Por que você nunca me contou sobre suas fantasias?

A pergunta pegou-me de surpresa, mas tentei manter a calma.

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— Minhas fantasias? O que quer dizer com isso?

Ela sorriu, mas havia um peso em sua expressão.

— Ora, Daniel, somos casados há meses e você nunca mencionou nada desse tipo. Quero dizer, sei que o sexo entre nós é bom, mas... Eu sinto que há algo que você não me contou, algo que guarda só para você.

Aquela pergunta acendeu um alarme dentro de mim. Mia estava tocando diretamente no segredo que eu sempre temi revelar. Respirei fundo, tentando escolher as palavras com cuidado.

— Não acho que isso seja tão importante, Mia. O que temos agora é mais do que suficiente.

— Daniel... — ela interrompeu, colocando a xícara de chá na mesa ao lado e segurando minha mão. — Por favor, não se feche para mim. Eu só quero te conhecer completamente. Não importa o que seja, eu quero saber.

Havia algo no olhar dela, uma mistura de preocupação e determinação, que me fez perceber que não adiantava mais fugir. Não era justo com ela nem comigo.

— Tudo bem... — comecei, hesitante, sentindo o peso das palavras antes mesmo de pronunciá-las. — Vou te contar, mas só se prometer que vai ouvir até o fim, sem tirar conclusões precipitadas.

Mia assentiu lentamente, seus olhos fixos nos meus, esperando.

— Durante o meu relacionamento anterior, explorei coisas que nunca imaginei que fariam parte da minha vida. — Engoli em seco, tentando encontrar coragem para continuar. — Descobri que tenho... gostos diferentes. Coisas como exibicionismo, submissão... e fantasias envolvendo outras pessoas.

As palavras pairaram no ar por alguns segundos, até que a expressão no rosto de Mia mudou. Sua serenidade deu lugar a uma mistura de choque e confusão. Ela retirou lentamente a mão da minha e recostou-se na cadeira.

— Você está dizendo que gosta disso? — perguntou, a voz baixa, mas carregada de incredulidade.

— Não é algo que escolhi. É algo que simplesmente existe em mim, Mia. Mas, por favor, entenda, eu nunca faria nada que você não aprovasse. Nunca iria além dos limites que estabelecemos.

Ela desviou o olhar, contemplando o jardim à frente. A brisa fresca balançava suavemente os galhos de uma roseira que ela mesma plantou, e a luz da lua fazia suas feições parecerem mais duras do que eu estava acostumado.

— Isso é... muito para processar, Daniel. — Ela finalmente disse, com um tom que mesclava tristeza e perplexidade.

— Eu sei. E eu sinto muito por não ter contado antes, mas eu temia que isso te afastasse.

Ela se levantou lentamente, cruzando os braços como se estivesse tentando se proteger de uma brisa que, de repente, parecia fria demais.

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— Eu preciso de tempo para pensar. — Sua voz era baixa, quase um sussurro.

Assenti, sentindo meu coração pesar. Não havia mais nada que eu pudesse fazer ou dizer naquele momento. Apenas a observei caminhar para dentro da casa, sua silhueta iluminada pela luz suave que escapava da sala. Fiquei ali sozinho, com a brisa da noite acariciando meu rosto e o som das folhas preenchendo o silêncio que ela deixou para trás.

Nos dias que se seguiram, Mia parecia ainda mais distante. Ela continuava a fazer suas tarefas com o mesmo zelo de sempre, mas algo em seu olhar deixava claro que ela estava processando tudo o que havia ouvido. Eu respeitei seu espaço, mas cada momento de silêncio parecia uma eternidade.

Eu sabia que essa conversa seria apenas o começo.


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Clique na imagem abaixo e confira as demais partes desta deliciosa série

Comentários

  1. Se dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, a vida do Daniel parece um mar de deliciosas tempestades, onde o raio insiste em cair sempre a sua volta. Por favor, não nos deixe esperando mais de um ano novamente, pra saber o desfecho do (ao que tudo indica) furacão Mia.

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    1. Carlos disse que ele já mandou quatro, agora não sei se são quatro no total ou mais quatro além desta!!!

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  2. Como ele finalmente se casou, acho que em breve teremos chifres!!!

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