Caros amigos de chifres, como bem sabemos nem todos os dias é dia de chifre. Infelizmente, o ritmo da libido feminina, não acompanha o passo do desejo masculino e de tal maneira, é inevitável ter que ficar alguns dias na mão, à espera do fim da chifropausa.
Apresento nesta nossa conversa, a resenha de uma das mais interessantes obras da literatura dramática brasileira que aborda o universo que tanto nos estimula: a mulher que vai em busca da realização do seu desejo, usando o seu poder de sedução.
Abaixo temos uma resenha sobre o texto dramático, filmado duas vezes em épocas distintas (1981 e 2013). Após a resenha, escrita por Ana Claudia Monteiro, publicada no blog "mulheres que pecam" (http://mulheresquepecam.blogspot.com/2010/08/bonitinha-mas-ordinaria-perversao-de.html), publico os links para que seja possível conferir os filmes e morrer de tesão com a magnifica obra de arte do cinema nacional.
Filha de um rico empresário,
Maria Cecília tem cara de anjo e jeito de menina. Torna-se noiva por imposição do pai, depois
de ser atacada por cinco crioulos num lugar ermo. O noivo, Edgard é o
personagem cujo Pathos é o eixo
principal da trama. Um homem cuja moral está em constante desequilíbrio,
dividido entre a ambição, o desejo e os próprios valores.
Werneck, o pais da moça é o
grande corruptor – compra casamentos, virgindades e violações de toda espécie –
inclusive sexuais. Tenta comprar Edgard para Maria Cecília com um cheque
voluptuoso que se torna o símbolo do desenvolvimento moral do personagem –
rasgando o cheque, Edgard escolhe a retidão de caráter; se descontar o cheque,
corrompe-se.
Ao cheque junta-se uma frase
repetida à exaustão por todos os personagens da trama, e atribuída ao
jornalista Otto Lara Rezende (daí a sua mensão no títuo da obra): “o mineiro só
é solidário no câncer. Traduzindo: se a farinha for pouca, o caráter vira pó,
eo sofrimento do outro passa a ser preferível ao seu. O “câncer” se solidariza
na dor: a dor individual que suprime a dor do outro. Ou nas palavras de Edgard,
se você não for canalha na véspera, será canalha no dia seguinte”. Nesse ritmo,
Edgard oscila entre o caráter e a canalhice durante os três atos da peça. E
essa oscilação também toma corpo na forma (ou nas formas) de Maria Cecília e de
outra mulher, que funciona como seu dopler:
Ritinha, vizinha d Edgard, e por quem este é atraído.
O ingrediente na construção moral
das duas personagens é o mesmo: a violação sexual, ou a maturidade forçada.
Maria Cecília, como já dissemos, alega ter sido estuprada por cinco homens e
Ritinha, por outro lado é uma prostituta que se passa por professora num
colégio de freiras.
À princípio, a mentira e a inocência
parecem estar com Rita e Maria Cecília, respectivamente. Mas, em Nélson
Rodrigues, nada e o que parece. Ritinha conta que a mãe fora acusada de desvio
de verbas, e que ela foi atacada por um dos responsáveis na apuração do caso,
que exigiu o abuso sexual em troca da inocência de sua mãe. A mãe, é claro, não
foi inocentada, e Ritinha teve que trabalhar para repor a soma roubada.
Escolheu a única profissão que dava muito dinheiro rápido.
No melhor estilo da Lucíola alencariana,
a violação de Ritinha é produto da necessidade, e a consequente prostituição,
um meio de sobrevivência. Sem pai presente e com a mãe desempregada e
desequilibrada, Ritinha sacrifica a sua inocência para botar comida na mesa e
dar um futuro às irmãs mais novas. Todo seu esforço prova ser inútil quando
Werneck consegue atrair as duas irmãs de Ritinha para uma orgia onde a
virgindade delas é a atração principal. Ritinha tenta salvá-las, mas as três
acabam violentadas pelos vários homens presentes. A submissão compulsória do
feminino ao poder do macho, na história de Ritinha, seguem vertentes distintas
e igualmente trágicas: o sexo primeiro por imposição; e depois por (falta de)
opção.
A história de Maria Cecília já e
bem diferente. Aprendemos, no final do terceiro ato, que Maria Cecília
convenceu o cunhado Peixoto (que é apaixonado por ela) a contratar cinco homens
negros para violenta-la. “Ela pediu para ser violada!”, grita um exasperado
Peixoto, ao contar a verdade para
Edgard. Maria Cecília queria que Peixoto assumisse o estupro e a ouvisse gritar
os eu apelido de infância – cadelão. Racismo, sexismo, chauvinismo: tudo
explorado numa única cena. Rodrigues descreve com exatidão a mesma história, em
dois pontos de vista. A primeira na voz de inocente e mentirosa de Cecília
quando ela conta a Edgard a sua versão sobre o estupro; a segunda na voz
perniciosa de Peixoto, quando este revela toda a verdade.
O que fica claro, em ambos os
casos, é a relação entre o subjugo sexual e o poder. Na versão de Cecília, ela
é dominada; na versão de Peixoto, Cecília domina, paga para ter a experiência
sexual que bem entende, explora a força do macho que lhe atrai, comprando o
próprio prazer.
Não é preciso dizer qual versão é
a mais fácil de acreditar, porque é a mais próxima da cultura misógina que
permeia o enredo: a mulher é tão frágil quanto volúvel e precisa ser protegida
ou subjugada. Por isso, Cecília circula impune e praticamente incógnita por
quase toda a trama, manipulando todas as figuras paternas: o pai, o cunhado, o
noivo.
Acaba morta pelas mãos de
Peixoto, com o rosto desfigurado por uma garrafa quebrada. É a beleza, símbolo
do poder feminino na peça, sendo destruídos pelo ódio e pela violência,
atributos essencialmente masculinos.
Temos nessas duas mulheres,
portanto, o contraponto entre o pecar por necessidade e o pecar por
promiscuidade. Mas ao contrário de Maria Cecília, Ritinha (a Lucíola de
Rodrigues) encontra sua redenção em vida, ao fugir com Edgard para renascer como
esposa, namorada e amante de um homem só. Edgard escolhe a retidão e rasga o
cheque. E o sol nasce para o casal, prenunciando uma nova realidade.
O desaparecimento de Cecília e o
renascimento de Ritinha são duas faces de uma mesma moeda: a satisfação sexual
como parâmetro para mensuração do poder da mulher no contexto machista
desenvolvido para a trama. “Bonitinha,
mas ordinária” é uma título que denota toda a cornofobia masculina, bem
como o entendimento tendencioso sobre a perversão que parte da mulher.
Certa ou errada Maria Cecília fez
o que quis; o resto é dissimulação e silêncio.
Clique aqui e assista à cena mais quente do filme, no Xvídeos
Clique aqui e assista à cena mais quente do filme, no Xvídeos
Link para o filme original (1981) - https://www.youtube.com/watch?v=mTfd84AVsVQ&has_verified=1 -
(cenas principais - 0h18min40s até 0h21min03s e 1h33min45s até 1h39m20s)
Link para o remake do filme (2013) - https://www.youtube.com/watch?v=wGPIr2E8sZs
(cena principal 1h12min06s até 1h16m50s)
Obrigado, amigo corno. Tomara eu ser traído por uma menina brasileira que inspire e faça de mim a sua puta, também, literária, mas igualmente amaria que ela me contasse em pormenor e em gravação todos os pormenores da minha traição
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