#229 - "Depois de dez anos no swing, fui descoberta pela família e julgada pela igreja" (Reportagem)
"Depois de dez anos no swing, fui descoberta pela família e julgada pela igreja"
Conhecida no meio evangélico, "Marina" e o marido praticavam swing há mais de uma década, mas não se sentiam seguros em compartilhar com família e amigos. Após uma entrevista viralizar, os dois foram reconhecidos por um parente e foram expostos para igreja, família e filhos.
“Me casei com Márcio há 21 anos, mas gente se conhece desde criancinha. Nossos pais frequentavam a mesma igreja evangélica. Quando crescemos, ele já não ia regularmente à igreja por muitos anos. Mas, por insistência da família, foi uma vez e me viu cantando. Fomos apresentados, nos abraçamos. E não nos largamos mais.
Somos de famílias
tradicionais evangélicas, então ir para o swing era uma coisa completamente
impensável. Tanto que nos primeiros seis anos de casamento, nunca tínhamos ido
nem em balada. Até o dia em que saímos para comemorar um aniversário de
casamento e, no meio do caminho, um olhou para o outro e disse: 'Vamos fazer
alguma coisa diferente hoje?'. Entramos então em uma casa de swing, por pura
curiosidade. A gente nem pensava em se relacionar com outras pessoas, e, de
fato, só tivemos algumas interaçõezinhas de toques. Nada, além disso. Saímos de
lá, dizendo que nunca mais voltaríamos. Aquilo era completamente contra tudo o
que acreditávamos.
Depois disso,
começamos a transar todo dia, lembrando da experiência. E veio a dúvida: será
que tinha sido legal? Como, se é errado? A vida inteira haviam nos ensinado que
coisas assim são ruins, capazes de destruir vidas. Só que estávamos vivendo
exatamente o contrário.
Resolvemos voltar para o swing. Uma vez, duas, muitas. E sempre saíamos de lá mais felizes, mais unidos, mais fortalecidos. Começamos então a questionar se o que haviam dito para nós era verdade. O que é swing de verdade? É transar, fazer troca de casais? Fomos entrando nesse universo cada vez mais. O ano era 2005.
Márcio sentiu uma grande mudança em mim, muitos problemas de autoestima
que eu tinha simplesmente sumiram. Apesar de não ter informação na época,
tínhamos muita vontade de contar o que estava acontecendo. Por isso,
fizemos um blog e começamos a entender que também era
legal trocar informações sobre o tema. Coisas que buscávamos saber e não
encontrávamos em lugar nenhum.
Pesquisamos muito,
mas estudamos realmente. História, antropologia. Com isso, fomos entendendo
todo o funcionamento da religião cristã, como foi criada, para que servia, as
castrações todas, a questão do feminismo... Como entendemos tudo isso, o
sentimento de culpa nunca existiu. Tentamos levar as duas filosofias
paralelamente, até porque nós também não deixamos de acreditar em Deus.
Acreditamos em Deus, no céu, no diabo.
A gente só não
acredita mais em regras de religião. E entendemos que elas colocaram, cada uma,
suas regras para controlar as pessoas e não têm nada a ver com Deus. Deus é,
inclusive, o criador do sexo. No fim, essa 'vida dupla' acabou não sendo tão
difícil, afinal, nossa vida é uma só.
Durante 15 anos,
ninguém da nossa família ou de nosso circulo social soube que fazíamos swing.
Até que, em setembro, demos uma entrevista para um portal e mandamos algumas
fotos para ilustrar a reportagem. Nelas, eu estava usando peruca e o Márcio,
óculos escuros e um boné da nossa marca, Marina e Márcio. No fim do dia,
um sobrinho dele telefonou dizendo que havia nos reconhecido. Em pouco tempo, a
família toda estava sabendo. E logo a história chegou à comunidade da igreja.
O ponto dessa
'grande tragédia' foi justamente o seguinte: além de termos fama na religião,
também temos fama no swing. Eu sempre fui de música, desde pequena canto e
toco. E minha família também. Tenho vários CDs gravados, já me apresentei em
vários congressos, sou professora de música na escola da igreja. Minhas irmãs e
minha mãe, de 70 e tantos anos, cantavam comigo. Para minha mãe está sendo
muito, muito difícil.
De tantas coisas que me chatearam, o que me deixou realmente abalada foi ter deixado minha mãe triste. Ela não aceitou nenhum tipo de conversa comigo. Sei que ela me ama e, quando conseguir, vai me procurar. Mas, mesmo sofrendo, entendi o lado dela. Levei anos para me adaptar a essa vida, por que ela não precisaria do tempo dela?
Nossos pais tinham
muito essa projeção de exibir os filhos, além da relação com a comunidade da
igreja. A primeira coisa que eles se preocuparam, quando falaram com a gente,
foi o que os outros iriam pensar. Não se a gente está bem, feliz. Isso nem
passou pela cabeça deles.
Fui questionada sobre absolutamente tudo. Como mãe, como profissional. As pessoas só me vêem transando agora. Ficamos sabendo durante uma viagem e alguns comentários chegaram em nós. Especialmente de gente que achou um absurdo que 'largamos' os filhos para fazer festa.
A gente nunca falou 100% a verdade para nossos filhos, hoje com 18 e 15 anos. Eles perguntavam em que a gente trabalhava e dizíamos que cuidávamos de um site, que ajudámos casais nos relacionamentos. Sempre dessa forma, de acordo com a idade deles.
Meu caçula sempre
questionava o porquê de a nossa marca se chamar Marina e Márcio se aquele não
era meu nome -- Marina é meu pseudônimo no swing. Até dois anos atrás, quando
encontrou um material de nossos cursos em casa e descobriu o endereço do blog.
Ele entrou, leu tudo. Mas ficou pianinho, não falou nada.
Sempre falamos muito sobre respeito, principalmente às mulheres. Agora, conversamos também bastante sobre como lidar com os olhares e comentários dos outros, como se proteger sem usar de agressividade. 'A maioria dos nossos amigos tem a família meio que destruída, pais que sempre brigam... A nossa é feliz, meus pais são felizes', me disse o caçula estes dias.
Marina e Márcio (Foto: André Vieira)
Uma única amiga da igreja me procurou. O que ela disse, a gente já tinha percebido. 'Não sei se você sabe, mas a comunidade inteira inveja vocês. Felizes, bonitos, sempre juntos.' Garanto que se houver julgamento divino, o julgamento será a nosso favor."
Sou evangélico casado fazem 19 anos, e não posso negar que já imaginei muitas vezes como seria ver minha esposa sendo aberta por outros homens, e na igreja sempre houve tanto para ela como para outras casadas olhares de desejo por parte dos irmãos e pastores também, então se a comunidade abrisse as portas para essa realidade talvez os irmãos "casados" pudessem desfrutar disso sem se sentir culpados e em comum acordo em encontros para casais organizados pela própria igreja, seria menos hipócrita, porém isso e uma utopia pois nunca será largada a religiosidade.
ResponderExcluirCaro amigo ,
Excluirinicialmente agradeço pela sua participação no blog Meus Chifres. Seu feedback é o combustível para a continuação da nossa caminhada.
Concordo com o seu ponto de vista. A hipocrisia que nós adulto tanto cultivamos, só nos afasta daquilo que realmente nos dá prazer nessa vida. Ora, se sua esposa é bonita, gostosa, chama a atenção dos irmãos de igreja e pastores, se isso te dá tesão, e se isso a estimulasse, pq não viver tudo dentro da segurança do círculo de irmãos?
Fico imaginando o tanto de prazer e chifres que economizamos nessa vida.
Um verdadeiro pecado!
OLÁ EVANGÉLICO !!!
ExcluirSE FOREM DE SP/CAPITAL E QUISEREM UM PAU AMIGO ...
rogerio1123@yahoo.com.br
Olha ai amigos evangélicos que estão à procura de um belo par de chifres. Pelo visto há uma opção com experiências com casais da comunidade evangélica na área.
ExcluirPor experiência própria isso é comum no meio evangélico, mas fica por baixo do tapete.
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