#347 - Stag & Vixen (Reflexão)

Caros amigos de chifres, 

atendendo ao pedido de um dos nossos quase 800 mil leitores, no post de hoje do Blog Meus Chifres, iniciamos um diálogo a respeito do conceito "Stag & Vixen" que vem ganhando força nos últimos anos no ambiente virtual do nosso fetiche liberal.

No comentário do post #277 que abordava os prazeres da prática do orgasmo negado, tambpém conhecido como orgasmo arruinado, Denial Orgasm ou T&D (abreviação de Tease and Denial - excitação e negação, numa tradução livre), um dos nossos leitores sugeriu nos comentários daquele post,  a abertura de um tópico de discussões a respeito do fetiche Stag & Vixen, apontando para o fato que nunca havíamos comentado a respeito de tais termos aqui no nosso Blog Meus Chifres.

Embora o leitor anônimo tenha certa razão, visto que os termos Stag & Vixen nunca haviam sido citados no nosso Blog, a sua reclamação chega a ser de certo modo infundada pois o assunto já foi diversas vezes abordado aqui no nosso blog, porém sem a costumeira "nova terminologia" típica de tempos neoliberais.

De toda forma, a fim de cumprir a nossa missão de ser um espaço de diálogos sobre o ambiente do fetiche liberal, com recorte especial na pratica do relacionamento cuckold & hotwife, fizemos um estudo a respeito do termo apontado pelo leitor, a fim de compreendê-lo um pouco mais a fundo e assim, poder oferecer um ponto de vista a respeito da prática aos nossos leitores.

Assim, formos surpreendidos com a grata surpresa de que não se tratava de nada além de um neologismo para aquilo que todos nós corno bem conhecemos, uma vez que passamos (ou ainda estarmos vivendo) por uma das sete fases de evolução do fetiche do corno e da hotwife, conforme citamos no post #164, há exatos três anos antes da publicação do presente post.

Vejamos se não....

Pesquisando sobre o conceito do fetiche Stag & Vixen em todas as fontes de conceitos que nos apoiamos e entre interlocutores do nosso whatsapp, encontramos basicamente a uníssona resposta que se trata de um fetiche no qual um casal se dedica à pratica de um relacionamento no qual o marido sente prazer em ver a sua esposa penetrada por outros homens. Até ai, nada de novo em relação ao que já conhecíamos sob os rótulos de esposa liberada e marido corno ou cuckold & hotwife, para aqueles que preferem os  estrangeirismo aplicados a qualquer coisa que temos em bom e claro português.

Avançando um pouco mais, percebemos no comentário do leitor anônimo, um detalhe que embora citado, não faz nenhum efeito suficientemente impactante que possa afastar o conceito de stag & vixen daquilo que conhecemos no nosso meio como "casal iniciante", quando o leitor explica se tratar de um casal no qual o "beta" não gosta da humilhação.  

Parece-nos contraditório o fato de não aceitar humilhação mas já se denominar como beta, diante de um macho alfa.

Enfim......

O século XX viu florescer uma teoria do desenvolvimento psicológico humano que nos apresentou um conceito que conhecemos muito bem, a partir do psicólogo e psicanalista alemão Erik  Erikson que cunhou a expressão "crise de identidade" para explicar que "nós não somos, nós estamos sendo!" 

A afirmação do psicanalista é o bastante para confirmar a nossa tese de que, ao contrário do que disse o leitor anônimo, já havíamos abordado sim a questão do Stag & Vixen aqui neste blog, embora não usando esses termos anteriormente.

Contemporâneos da era do neoliberalismo, sendo letrados os suficiente para compreender que palavra é poder, poderemos então entender que o neologismo é uma forma de demarcar território e afirmar a existência de uma parcela transitória de praticantes do fetiche que, sendo iniciantes como são, ainda não compreendem a máxima do psicanalista alemão "nós estamos sendo!". 

Lutando por um lugar ao sol, já demonstrando estar com um pé bem mais perto do estágio 5 das sete fases de desenvolvimento do corno, conforme citado no post  #164, o iniciante que transita entre a aceitação constrangida e a aceitação plena (fases 4 e 5 respectivamente) via de regra, fecha o tempo nos grupos de whatsapp bradando contra a aceitação de títulos como manso, submisso, frouxo, otário ou até mesmo, veadinho, que tanto nos enche de tesão quando são associados à nossa condição de cornos. 

Não compreendendo que está em um constante processo de evolução, o corno stag afirma não admitir ser humilhado nem pela esposa, nem pelo macho alfa e assim demonstra compreender pouco ainda a língua estrangeira e menos ainda a etologia, pagando um mico, se me permitem o trocadilho infame.

Alertando os entusiastas de novas modas, sobretudo aqueles que gostam de tudo o que tem um nome estrangeiro, cumpre-nos a missão de vagando pela etimologia, ciência que estuda a origem dos termos, falar sobre etologia, ciência que estuda o comportamento dos animais.  

Novos termos, velhos problemas

A neurociência já nos ensinou que o pensamento antecede a palavra. Quando nominamos um filho, por exemplo, reunimos conceitos, experiências, expectativas a fim de determinar o rótulo que melhor defina aquela expectativa que estamos colocando no mundo. Da mesma forma, agimos quando inventamos algo, ou tentamos criar uma nova nomenclatura que seja mais "soft" para uma realidade "hard" com a qual somos obrigados a viver e não queremos validá-la.

A fim de livrar-se de uma saia justa com organismos internacionais, nos anos 1990, o governo brasileiro deu fim às favelas, problema infindável surgido em 1890 quando os soldados que voltaram vitoriosos da Guerra de Canudos aglomeraram-se no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, à espera do cumprimento da promessa do governo, dando assim início à primeira favela no país. Passado um século sem que o governo conseguisse administrar o problema da ocupação irregular e desumana, para não me se expor diante dos organismos internacionais, uma canetada oficial foi o suficiente para dar fim às favelas que  a partir de então são consideradas "aglomerados subnormais" para fins de documentos oficiais.

O mesmo ocorre com aqueles que criaram o fetiche Stag & Vixen. Vejamos:

De fato não foi criado nenhum novo fetiche. Trata-se de um casal corno e puta ou cuckold & hotwife que não aceitam o rótulo por considerá-los pejorativo. As suas práticas são as mesmas, ou seja, o marido, manso, entrega sua esposa, fogosa, a um macho alfa que usa e abusa dela. 

Nada de novo no reino da cornice.

Assim, nada mais nos resta a fazer a respeito do pedido do leitor anônimo se não apenas citar mais uma vez os termos Stag & Vixen neste blog para que a sua pretensão esteja de fato saciada.

No entanto, antes de encerrar esse post, é imperioso fazer uma explanação a respeito da etimologia do rótulo neoliberal do nosso velho conhecido fetiche a fim de advertir os neófitos para o fato que eles estão pagando um "mico". Mais uma vez, peço desculpas pelo infame trocadilho.

Faço isso motivado pela justificativa de um interlocutor com quem conversei no whatsapp certa vez, a respeito do significado dos termos Stag & Vixen. Na ocasião o aspirante a corno defendia a escolha pelos termos relacionando alguns elementos simbólicos do "Stag", veado em inglês, animal no qual devem ter se inspirado para a nomenclatura do corno para casais que se identificam com o neologismo. Quando o adverti quanto ao significado do termo "stag", traduzido na nossa língua como "veado", o aspirante defendeu a sua escolha pautando-se na cultura Celta que vê o cervídeo como símbolo de masculinidade e virilidade. 

Palavras e seus significados

A "Vixen"

Assim, fui dar um passeio nos escritos sobre a cultura Celta e lá pude perceber que não só o "Stag" tem um sentido simbólico interessante, quanto a "Vixen" (a raposa) assim o tem.

Iniciando pela fêmea, "Vixen" é um temo em  inglês que refere-se à mulher megera, traidora, excitada. Também pode ser associado à figura  da raposa, numa tradução literal do termo.

Não são raros os romances publicados no Reino Unido cujo título faz referência à Vixen, uma personagem central que, via de regra, perturba os homens sexualmente, tal qual o comportamento da personagem Nevada Van Arden em "The Punishment of a Vixen", romance de Barbara Cartland, lançado em 1903 e muito lido até hoje no Reino Unido.

Para além da figura da mulher ardente, perturbadora, malvada sexualmente falando, ainda podemos observar as questões etológicas da raposa fêmea, anima que tem cauda vistosa, muito peluda.que chama a atenção de longe e cujo cio pode durar até 12 dias, período em que ela acasala com diversos machos, mesmo tendo formado um casal com um dos machos do bando há cerca de um ano.

Para os Celtas e suas culturas derivadas, a  raposa é símbolo da inteligência, astúcia, solução de problemas e, às vezes, pilantragem. São animais que sabem se virar bem sozinhos. Apesar disso, algumas culturas e religiões veem o animal como a personificação da falsidade e trapaça, como é o caso do cristianismo.

Usado em gírias, o termo pode ser definido como mulher vagabunda, safada; mulher que deseja se aproveitar dos bens do homem. No ambiente da cultura cigana, que de alguma forma se aproxima da Celta,  a carta da Raposa pode significar traição e deslealdade

No ambiente das fábulas, narrativa originada pelos Celtas, a raposa representa a astúcia  e  astúcia e traição. No imaginário medieval, a Raposa aparece como símbolo da mentira, da falsidade, da ganância e da luxúria.

Explica-se portanto o fato de ter sido esse o termo escolhido para designar uma esposa fogosa que chifra o marido? Mais pejorativo, impossível.

O "Stag"

Embora os cornos stags não admitam ser chamados de cornos veadinhos, e etc., pautando-se numa explicação que o termo refere-se ao cervídeo que chega a ter um certo sentido na cultura celta, esta mesma cultura já observava que  o direito de acasalar com as fêmeas do bando era monopólio daquele veado que vencia as disputas entre os membros do bando.

Entre os veados, o macho alfa, vencedor, fecunda as fêmeas diante dos demais machos beta, perdedores, "losers" (para quem prefere temos estrangeiros), que apenas assistia o coito, como nós cornos mansos fazemos quando acompanhamos nossas amadas hotwives nos seus encontros com os seus amantes.

O que os cornos iniciantes, amantes dos neologismos e estrangeirismos na língua ainda não se deram conta é que os veados, estando excitados por verem o coito do macho alfa com as fêmeas do bando, esvaziam seus testículos transando uns com os outros, numa prática homoafetiva cervídea, para desinchar seus testículos excitados de tanto tesão por ver a performance do alfa com as fêmeas que ele não pode fecundar.

Em suma, Stag,  é um termo estrangeiro, da língua inglesa, que define um certo animal beta que se excita vendo outro animal alfa do bando, fazendo sexo com a sua fêmea e depois ele, o beta transa com outros machos beta para aliviar o tesão que sentiu ao ver a sua fêmea penetrada por outro macho, o alfa.

Se isso não é o suficiente para explicar o motivo pelo qual chamamos homens que praticam relações homossexuais de veado, pelo menos é o suficiente para  explicar o mico que os "stags" passam ao se anunciar como tais, justamente por não aceitar humilhações ou comparações pejorativas durante a prática do fetiche

Assim sendo, resta-nos apenas a vergonha alheia quando nos  deparamos com um corno iniciante que, ainda na fase 4 da evolução do chifre, a da aceitação constrangida, esconde-se atrás do termo "Stag e Vixen" numa tentativa de "amenizar" o sentimento de humilhação a que todos nós cornos somos submetidos (e gostamos), sem perceber que está fazendo justamente o contrário, seguindo a cartilha neoliberal, assumindo-se como um casal de esposa putinha e corno veadinho, só que de uma forma mais "soft".