A reportagem publicada no site "lado bi", é assinada pelo Marcio Caparica, autor de um guia sobre o poliamor e está publicada no site, no link http://ladobi.com.br/2017/07/poliamor-relacionamento-aberto/.
Ademais, vejam a seguir o que escreve o autor a respeito da dificílima, porém prazerosa, missão de abrir o relacionamento.
Autor de guia sobre poliamor
compartilha o que aprendeu depois de 10 anos de relacionamento aberto
“Um
relacionamento monogâmico cria aquela fissura, você fica o tempo todo pensando
em sair com outras pessoas. Depois que eu passei a viver um relacionamento
aberto, isso acabou. Vivo uma vida muito mais serena.” Quem afirma isso é
Alexandre Venancio, autor do livro Poliamor
& relacionamento aberto: guia ilustrado para dominar a arte da sexualidade
plural (Panda Books). Extremamente informativo e lúdico, o
livro mostra a realidade dos casais que se permitem o envolvimento sexual e
afetivo com outras pessoas, e orienta aqueles que querem se enveredar por esse
caminho.
“Por
muito tempo eu fazia como tantos: entrava num relacionamento monogâmico e
depois de um tempo traía o parceiro”, confessa Venancio. “Depois que percebi
que esse não era o modelo para mim, decidi que só teria relacionamentos
abertos. Achei que não encontraria um parceiro nunca mais.” Hoje, comemora que
estava errado: seu namoro já dura 10 anos. “É um relacionamento que dura porque
eu o amo, e porque tenho liberdade.” Em entrevista para o podcast do LADO BI,
Venancio ofereceu alguns conselhos baseados em suas experiências poliamorosas.
- O ciúme é só vaidade.
“As pessoas sempre me perguntam como eu lido com o
ciúme”, diz Venancio. Para ele, a solução para a ciumeira é compreender que
isso é algo que cada um tem que resolver em si, independente do(s) parceiro(s).
“Quando compreendi que esse sentimento vem da própria insegurança e tratei
disso, ele acabou. Não apenas o ciúme do parceiro amoroso, mas também ciúmes
com relação a amigos e até familiares.” Vale aquela máxima de que não
conseguimos controlar o que os outros fazem e sentem – apenas como nós lidamos
com isso.
- Relacionamento aberto e
poliamor são coisas diferentes.
“Abrir o relacionamento é permitir que se tenha outros
parceiros sexuais sem envolvimento afetivo”, explica Venancio. “Poliamor é
abrir-se à possibilidade do envolvimento emocional também.” O autor acredita
que o primeiro é uma meta mais fácil de se alcançar – não é tão difícil separar
sexo de sentimento. Compreender que pode-se amar várias pessoas em graus
diferentes é mais complexo – mas por outro lado permite que aqueles que
preferem que a transa tenha um elemento afetivo possam expandir seus horizontes.
- Abrir o relacionamento
não vai salvá-lo. (conforme já vimos no post #94 do Blog Meus Chifres)
“Muitas vezes o casal já não tem mais interesse um pelo outro,
mas não quer se separar. Daí pensa que permitir a entrada de outras pessoas em
suas vidas vai salvar a relação”, descreve Venancio. “Não vai. Os problemas
continuam ali.” O autor recomenda que casais façam exatamente o oposto:
considerem abrir seu relacionamento quando a relação está indo muito bem, e a
cumplicidade entre os dois está alta. Assim será mais fácil fazer os ajustes
exigidos por esse novo tipo de envolvimento.
- Homens têm mais
facilidade em abrir o relacionamento.
“Nós, homens cis, usufruímos de vários privilégios”, aponta
Venancio. “Crescemos em uma sociedade que nos permite uma maior liberdade
afetiva e sexual. Por isso os gays têm mais facilidade para abrir os
relacionamentos: é uma situação que envolve duas pessoas que usufruem dos
mesmos privilégios.” A maneira como as mulheres são educadas e as expectativas
que a sociedade ainda impõe sobre seu comportamento tornam mais difícil para
elas embarcar nessa empreitada.
- O machismo ainda
influencia a maneira como se abre o relacionamento.
“Em eventos de trocas de casais, é muito comum que as mulheres
fiquem juntas – é algo até esperado”, descreve Venancio. Já a experimentação
sexual entre dois homens não é vista com bons olhos. “É comum que até as
esposas sintam-se incomodadas com a possibilidade do marido ficar com outro
cara, apesar de experimentarem com mulheres. Há casas que não permitem o
envolvimento entre homens, algo bem antiquado mesmo.”
- Pode começar aos poucos.
“Voyeurismo é uma boa maneira de se começar a abrir o
relacionamento”, indica Venancio. Há muita gente nas festas de trocas de casais
que vai só para olhar, sem qualquer objeção dos outros presentes. Quem ficar
mais à vontade pode experimentar tocar ou beijar. “Não precisa fazer tudo de
uma vez, pelo contrário: é bom respeitar o tempo de cada um.”
- As regras vão mudar com
o tempo.
“Quando eu e meu namorado começamos, nós tínhamos muitas
regrinhas sobre quem podia fazer o quê e quando”, lembra o escritor. “Em menos
de um ano percebemos que isso só atrapalhava”. Estabelecer acordos sobre como
será o relacionamento aberto pode ser muito importante para que se estabeleça a
confiança necessária, principalmente no começo. Mas é muito natural que essas
regras sejam deixadas de lado conforme todos os envolvidos vão se sentindo mais
seguros. Até voltar a fechar o relacionamento depois é uma possibilidade. O
importante é manter a comunicação sempre aberta.
- Abrir o relacionamento
diminui preconceitos.
“Como eu vivo num relacionamento aberto, tenho a
oportunidade de conviver com pessoas das mais variadas”, conta Venancio. “Já me
envolvi com pessoas de várias situações sociais, raças e histórias. Isso fez
com que eu reconsiderasse várias dos meus pontos de vista.”
- Relacionamentos abertos
no armário são mais comuns do que você imagina.
“Eu mesmo escondia que tinha um relacionamento aberto”,
Venancio admite. “Quem olha pra mim não imagina que vivo um relacionamento
poliamoroso. Minha família só foi descobrir isso quando viu o livro na noite de
lançamento.” Existem muitos casais que têm acordos que permitem envolvimentos
com outras pessoas, desde que mantenha-se a fachada mais socialmente aceitável
do casal monogâmico – sejam esses casais heterossexuais ou homossexuais. Fazem
isso para poupar-se do desgaste e do julgamento que as parcelas conservadoras
da sociedade lançam sobre a vida alheia. Assim como a patrulha imposta a LGBTs,
essa reação tende a perder a força quanto mais gente mostrar como funcionam
seus relacionamentos. “Agora que, por conta do livro, sou aberto quanto a isso,
sinto um prazer enorme em levantar essa bandeira”, comemora.
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